O Estádio D. Afonso Henriques foi palco, neste sábado, de um dos confrontos mais aguardados da 11.ª jornada da Liga Portuguesa. De um lado, o Benfica, líder determinado em manter a sequência vitoriosa; do outro, o Vitória de Guimarães, empurrado por um público fervoroso e por uma equipa que tem mostrado consistência ao longo da temporada. O resultado final — Vitória SC 0-3 Benfica — parece indicar um domínio absoluto encarnado, mas quem viu o jogo sabe que a história dentro das quatro linhas foi bem mais equilibrada.
Primeira parte de equilíbrio e intensidade.
Desde o apito inicial, percebeu-se que o Vitória de Guimarães não tinha entrado em campo para se limitar a defender. O treinador vimaranense, consciente do poder ofensivo do Benfica, optou por um meio-campo reforçado, com linhas próximas e uma pressão alta nos primeiros minutos. Essa estratégia obrigou os encarnados a recorrer frequentemente ao jogo direto e aos lançamentos longos, sobretudo pelos laterais.
O Benfica, por sua vez, mostrou maturidade táctica. Sem se precipitar, manteve a calma mesmo quando o Vitória teve mais posse de bola nos primeiros 15 minutos. Florentino Luís foi o primeiro a dar sinais de equilíbrio no meio-campo, controlando o ritmo do jogo e distribuindo bolas com inteligência.
Aos 18 minutos, surgiu a primeira grande oportunidade: Ángel Di María, num cruzamento milimétrico da direita, encontrou Gonçalo Ramos, que cabeceou por cima da trave. Foi o aviso do que estava por vir.
O Vitória respondeu com personalidade. Tiago Silva e Bruno Gaspar criaram boas jogadas pela faixa direita, explorando o espaço deixado por Aursnes. Aos 24 minutos, Jota Silva obrigou Trubin a uma defesa apertada, num remate cruzado de média distância. O estádio vibrou, acreditando que o golo podia surgir a qualquer momento.
Benfica marca no momento certo
Quando o relógio marcava 31 minutos, o Benfica mostrou por que é considerado a equipa mais eficaz do campeonato. Após um canto cobrado por Di María, Tomás Araújo antecipou-se à defesa e cabeceou firme para o fundo das redes. O golo caiu como um balde de água fria sobre os adeptos do Vitória, que até então viam a sua equipa competir de igual para igual.
Após o 0-1, o Benfica passou a gerir o jogo com mais tranquilidade. Rafa Silva e João Mário alternavam posições, confundindo a marcação vimaranense. A fluidez ofensiva permitiu aos encarnados criar duas boas oportunidades antes do intervalo: um remate de João Neves travado por Bruno Varela e uma investida de Rafa que terminou em defesa segura do guarda-redes.
O intervalo chegou com um sentimento misto: o Benfica mais eficiente, o Vitória mais aguerrido, mas sem a concretização que o público esperava.
Reação vimaranense na segunda parte
O segundo tempo começou com o Vitória SC disposto a inverter o rumo da partida. O treinador lançou André Silva no lugar de Nelson Luz, procurando mais presença na área. A estratégia surtiu efeito: nos primeiros 10 minutos, o Vitória conseguiu empurrar o Benfica para o seu meio-campo. Tiago Silva tentou surpreender Trubin com um remate forte de fora da área, e pouco depois André Silva cabeceou por cima, em lance de bola parada.
A resposta encarnada veio num contra-ataque letal. Aos 57 minutos, Samuel Dahl (lateral sueco) fez uma jogada individual notável pela esquerda, tabelou com João Neves e, de pé esquerdo, disparou para o 0-2. O golo revelou a principal diferença entre as equipas: enquanto o Vitória precisava de muito esforço para criar perigo, o Benfica transformava poucas oportunidades em golos.
O ambiente no estádio manteve-se vibrante, com os adeptos vimaranenses a aplaudirem o esforço dos seus jogadores. O Vitória tentou reagir novamente, apostando em bolas longas e nas incursões rápidas de Tomás Händel, mas faltou clareza no último passe.
Terceiro golo e gestão encarnada
O Benfica demonstrou maturidade na reta final. Sem ceder ao ritmo emocional do jogo, manteve a posse e rodou o elenco. Aos 74 minutos, Roger Schmidt fez entrar Neres e Kokçu, refrescando o meio-campo e a linha ofensiva. As substituições surtiram efeito imediato: Neres entrou com energia, criou desequilíbrios e deu nova velocidade ao ataque.
O terceiro golo acabou por surgir naturalmente, aos 81 minutos. Num lance confuso na área, João Rego, jovem avançado formado no Seixal, aproveitou um ressalto e empurrou para o fundo das redes, selando o 0-3. O lance foi revisto pelo VAR por possível fora-de-jogo, mas o golo acabou validado.
Estatísticas que contam a história real
Apesar do resultado expressivo, as estatísticas finais demonstram o equilíbrio da partida:
Posse de bola: Vitória SC 47% – Benfica 53%
Remates totais: Vitória SC 12 – Benfica 14
Remates à baliza: Vitória SC 4 – Benfica 7
Passes certos: Vitória SC 402 – Benfica 419
Faltas cometidas: Vitória SC 16 – Benfica 12
Cantos: Vitória SC 5 – Benfica 6
Os números mostram que o Benfica foi superior em eficácia, não necessariamente em volume de jogo. O Vitória lutou, criou, e teve bons momentos, mas esbarrou na solidez defensiva dos encarnados e na inspiração de Trubin, que defendeu o que era possível.
Declarações pós-jogo
Roger Schmidt (treinador do Benfica):
“Foi um jogo difícil. O Vitória jogou muito bem, especialmente na primeira parte. Tivemos de ser pacientes e saber quando acelerar. Os meus jogadores mostraram disciplina táctica e eficácia, e isso fez a diferença. Estou orgulhoso da forma como a equipa reagiu sob pressão.”
Álvaro Pacheco (treinador do Vitória SC):
“O resultado é pesado para o que fizemos em campo. Fomos intensos, corajosos e criámos situações. O Benfica tem uma qualidade individual tremenda e aproveitou os nossos pequenos erros. Ainda assim, saímos com a cabeça erguida. Este grupo tem futuro.”
Florentino Luís (Benfica):
> “Sabíamos que aqui é sempre complicado jogar. O Vitória tem um ambiente fantástico e uma equipa muito bem organizada. A chave foi manter a calma e ser eficaz.”
Tiago Silva (Vitória SC):
“Sentimos que poderíamos ter saído com um resultado diferente. A diferença esteve nos detalhes. Eles aproveitaram as oportunidades; nós não.”
Análise táctica: dois estilos, uma mesma ambição
O Benfica apresentou o habitual 4-2-3-1, com Florentino e João Neves como duplo pivô defensivo, Di María a atuar mais livre pela direita e Rafa Silva explorando a profundidade. O sistema mostrou solidez e flexibilidade — os laterais subiram alternadamente, e a equipa mostrou inteligência para baixar o bloco quando necessário.
O Vitória optou por um 4-3-3 adaptado, com Tiago Silva em funções híbridas de médio e extremo, ajudando na marcação e transição. A equipa pressionou alto e tentou explorar as costas da defesa encarnada, sobretudo nos primeiros 30 minutos. O plano tático foi bem executado, mas falhou na finalização e na gestão emocional após o primeiro golo sofrido.
A diferença principal esteve na eficácia e na profundidade do plantel. Enquanto o Benfica manteve o mesmo ritmo mesmo após substituições, o Vitória sentiu a falta de soluções ofensivas de igual qualidade. Ainda assim, a organização defensiva e a coragem do conjunto vimaranense foram notórias.
Impacto na classificação e nas ambições
Com esta vitória, o Benfica reforça a liderança da Liga Portuguesa, somando agora 29 pontos, à frente de Porto e Sporting. A consistência fora de casa tem sido uma das marcas desta época, e Roger Schmidt parece ter encontrado o equilíbrio entre ataque e defesa que faltava em temporadas anteriores.
O Vitória de Guimarães, apesar da derrota, mantém-se firme na luta pelos lugares europeus. O desempenho, principalmente na primeira parte, mostra que a equipa tem qualidade e identidade para competir com os grandes. Se continuar neste ritmo, será certamente um dos candidatos ao top 5 da tabela.
Conclusão: eficácia versus coragem
O jogo entre Benfica e Vitória SC foi uma demonstração clara de como o futebol não se resume apenas ao resultado. O Benfica venceu com justiça, mas o Vitória mostrou uma coragem que dignifica o clube e os seus adeptos.
O marcador de 0-3 reflete a superioridade técnica dos encarnados, mas o espetáculo dentro das quatro linhas revelou um duelo intenso, estudado e apaixonante.
Em Guimarães, o Benfica foi eficaz e pragmático; o Vitória foi valente e persistente. E, no fim, o futebol português ganhou — com um jogo de qualidade, emoção e fair play.

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